2 de jul. de 2010

Unidos pelos versos - Poesia Popular

A trajetória do cordel e informações sobre o maquinário utilizado na impressão serão conhecidos pelo público  ELIZÂNGELA SANTOS

Com a presença de Lirinha e do cordelista Azulão, será aberta hoje a exposição "Caminhos do cordel", resultado de parceria do Sesc com o Fonds Raymond Cantel e a Universidade de Poitiers, na França

Um pedido de um cordelista cearense a Raymond Cantel, reconhecido como um dos maiores pesquisadores na área: "Traga a França para os meus versos e leve meus versos para a França". A saudação, que aconteceu na década de 70 durante a passagem de Cantel pelo nordeste brasileiro, dá nome à exposição "Caminhos do Cordel" que tem abertura hoje, no Sesc Senac Iracema, e enfoca a trajetória do gênero literário. Itinerante, a mostra já passou por Juazeiro do Norte, berço tradicional da poesia popular no Ceará.

Além da exposição, haverá oficinas, música, exibição de filmes e manifestações relacionadas à literatura de cordel. Hoje, o evento contará com as presenças dos cordelistas Bule Bule, Azulão e do poeta cearense Zé Maria. Lirinha (ex-integrante do Cordel do Fogo Encantado) e o Maracatu Az de Ouro também se apresentam, além da Orquestra do Grupo Pão de Açúcar.

Durante o passeio, é possível conhecer a origem do cordel, o momento no qual os folhetos passam a ser vendidos nas feiras populares, pendurados em barbantes, e o maquinário para a impressão dos "romances". O público terá acesso a quadros com xilógrafos famosos - retratando inclusive a importância da mulher no universo da poesia popular.

Convênio
Resultado da parceria com Fonds Raymond Cantel (França) e a Universidade de Poitiers (França), através do Ministério da Cultura Brasileiro, a exposição tem a curadoria de Ria Lemaire, Professora Emérita da Universidade de Poitiers (França), e de Dane de Jade, gerente de cultura do Sesc. Recebe a expografia de Clóvis Arruda e a trilha sonora de Patrícia Palumbo.

A Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra firmará, durante a solenidade de abertura, um convênio com o Sesc. O objetivo da parceria é oferecer formação ao corpo técnico da entidade e estágios para os alunos da Universidade.

"A exposição oferece uma ocasião especial para apresentar ao público brasileiro os diferentes aspectos das relações intensas de diálogo, intercâmbio e enriquecimento recíproco entre poetas e gravadores com a Europa", explica Dane de Jade. "O processo criativo de uma xilogravura será exemplificado passo a passo, mostrando das ferramentas até a prensa, também presente na exposição, passando por uma grande mostra de matrizes e xilogravuras de vários artistas nordestinos. Nomes como João Pedro do Juazeiro e Stênio Diniz, além dos pernambucanos Borges e José Miguel", exemplifica a gerente de Cultura do Sesc Ceará .

De acordo com Clóvis Arruda, o projeto nasceu em 2005, durante as comemorações do Ano do Brasil na França, com o trabalho "Vida ou Verso", de São Paulo. Na ocasião, o poeta Stênio Diniz lançou o folheto "Aventuras em Paris".

Quatro exposições foram realizadas na França durante o período. A linguagem utilizada lá se repete aqui, porém com um teor mais didático, destinado inclusive às crianças. Há dois anos, esse formato, adaptável aos espaços e às mostras itinerantes, facilita a compreensão e a interação do público.

Cordel e cantoria
Além de Lirinha, do Maracatu Az de Ouro e da Orquestra do Pão de Açúcar, fazem apresentações Bule Bule e o grupo Pajé Arte, que ao lado do Mestre Azulão e do poeta Zé Maria mostram a força da poesia popular.

"O repente já é o preparo do repentista". Assim Azulão responde sobre a apresentação de hoje em Fortaleza. Paraibano de 78 anos (mora há varias décadas no Rio), vem especialmente para a abertura da exposição, vender seus livros e declamar sua poesia. "Tenho uma banquinha aqui na badalada Feira de São Cristóvão, onde vem muito pesquisador. Tá na moda esse negócio de fazer leitura sobre a história do cordel no Nordeste e aqui tá pegando. A popularidade gosta de imitar", brinca.

Orgulhoso de ser um dos únicos cantadores que ainda hoje fazem o chamado "ponteio de viola", com a utilização do instrumento de 10 ou 12 cordas, Azulão promete cantar e declamar cordéis de sua autoria. "Não se faz mais isso hoje. Eles costumam usar a viola de sete cordas". Na hora de vender seu peixe, leva na brincadeira: "Vou levando uns 20 livros de dois, três, quatro reais, no máximo, se alguém quiser comprar", cai na gargalhada.

No Ceará, Azulão diz que já esteve em Russas, Quixadá e Fortaleza, por onde passou há um ano. "Estive na companhia de Klévisson Viana. Ele é um grande poeta", elogia.

Já o poeta cearense Zé Maria vai cantar o cordel de autoria de Leandro Gomes de Barros, intitulado "Meia-noite no cabaré". "Ele é o papa da literatura de cordel. Li pela primeira vez esse texto quando tinha 15 anos, numa farmácia, no Maranhão. Lembro como se fosse hoje. Na época, eu não tinha como tirar xerox. Só fui ter contato de novo anos depois. Nunca havia me apresentado com ele, tô lendo para me preparar e fazer o papel do Leandro". (SM)

Programação
18h: Apresentação do Maracatu Az de Ouro (Cortejo no Dragão do Mar)
18h30: Apresentação da Orquestra do Grupo Pão de Açúcar
20h: Assinatura do convênio entre o SESC e a Universidade de Coimbra
20h10: Apresentação do poeta cearense Zé Maria e do cordelista Lirinha
21h: Coquetel de abertura da exposição

MAIS INFORMAÇÕES:
Exposição "Caminhos do cordel". Abertura hoje, a partir das 18hs, no Sesc Senac Iracema (Rua Boris 90, Praia de Iracema). A exposição segue até 31 de agosto, sempre das 8h às 22h. Entrada franca.

SÍRIA MAPURUNGA
REPÓRTER

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